tag:blogger.com,1999:blog-25466214915270858802024-02-21T03:09:15.931-03:00PontianakKássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.comBlogger20125tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-33432723256685923222016-09-16T02:30:00.001-03:002016-09-16T02:30:50.784-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTOBTVCmh4Rd8o7Z4K_vaLtUanP9Q_GPXMjz2ZOVzVvkStoBEIZ1gf3m3rk5jIkffKCRxpzwjSuAszzfyhtkQIsL-1XAB3Ov6pMBxYBKDIWgl7YCoTIU8xNlTFyZsKz13zoDDJSjePxA/s1600/till+%252888%2529I.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTOBTVCmh4Rd8o7Z4K_vaLtUanP9Q_GPXMjz2ZOVzVvkStoBEIZ1gf3m3rk5jIkffKCRxpzwjSuAszzfyhtkQIsL-1XAB3Ov6pMBxYBKDIWgl7YCoTIU8xNlTFyZsKz13zoDDJSjePxA/s1600/till+%252888%2529I.jpg" /></a></div>
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Estrelas solitárias se aglutinaram em busca de conforto. Juntas se aqueceram, se ampararam. E sorriram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E sua luz nos chegou, tempos depois, mansamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mas você se refugiou em sua escuridão. Fugiu da claridade
reconfortante. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E divisei seus olhos brilhantes, assustados. Olhos de gato.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Estendi minha mão em sua direção, a luz brilhando sobre mim.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mas você não veio. Você nunca vem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E seus olhos tão brilhantes se tornaram opacos, cegos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E você chorou. <o:p></o:p></div>
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<div class="MsoNormal">
Eu nunca te alcanço.<o:p></o:p></div>
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Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-88654184341655452012016-06-20T23:36:00.000-03:002016-06-20T23:54:38.807-03:00Hey babe..<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO9hktgecOfpdRmiJ0hJlkpM8IzS0L-Nn4rvtk5vO0GjUY5Il3a1EMtIc38UGKf1TN3wsmkg67DLuWb_OmFnb9weySVuiHgU2CzlmcGdg_Nzu4Flx3a41Fo-J7ekXRsjtPra5jeati3A/s1600/till+%252816%2529II.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO9hktgecOfpdRmiJ0hJlkpM8IzS0L-Nn4rvtk5vO0GjUY5Il3a1EMtIc38UGKf1TN3wsmkg67DLuWb_OmFnb9weySVuiHgU2CzlmcGdg_Nzu4Flx3a41Fo-J7ekXRsjtPra5jeati3A/s640/till+%252816%2529II.jpg" width="640" /></a></div>
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Eles se estapeavam na TV. <span lang="EN-US">Eu ouvia Lou Reed.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">Hey babe,
take a walk on the wild side.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
Explode, mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Não dou a mínima. <o:p></o:p></div>
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Só me interessam aqueles dois pontinhos de luz refletidos no
seu olho direito, lá naquela foto que eu fiz enquanto você surtava olhando
para as estrelas...<o:p></o:p></div>
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Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-79908749727952236132014-01-16T01:35:00.000-02:002014-01-16T01:35:59.875-02:00Um dia quase normal na vida de Getúlio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn_y0Amjr0EahKXbyOcJBltr-g8B9yoTRYAZAVHxWLv_qoJLkETupunsyqOMG6-pa70tsJFU9UV0UDrdQIVvtjJ-_Y8B0Y005TzFW5wjDUZImzlvzx06Cbz80jcKmC9EqRS0igIIQKlQ/s1600/095(sel)I+(2).JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn_y0Amjr0EahKXbyOcJBltr-g8B9yoTRYAZAVHxWLv_qoJLkETupunsyqOMG6-pa70tsJFU9UV0UDrdQIVvtjJ-_Y8B0Y005TzFW5wjDUZImzlvzx06Cbz80jcKmC9EqRS0igIIQKlQ/s1600/095(sel)I+(2).JPG" height="248" width="640" /></a></div>
<br />
Aqueles livros todos amontoados pela sala, naquele momento, o aborreciam bastante. Pensou naquelas bobagens que, ainda ontem, o enchiam de vida. Mas hoje.<br />
O tédio o tomou como um tsunami.<br />
Não procurou pela euforia do dia anterior. Sabia que não iria encontrá-la. E nem queria. Tinha quase nojo daquele eu de ontem. Apalermado, estúpido.<br />
Esticou-se todo pra pegar um daqueles livros, qualquer um, qualquer merda serve nessas horas. Jogou o livro sobre as pernas e o deixou lá, repousando.<br />
Olhou para suas pernas, se perdeu nelas. Esqueceu-se do livro. Céus, como são feias! Tão tortas e ossudas. Nunca havia se dado conta de como suas pernas eram feias.
Pensou que, por toda a sua vida, aquelas toras grotescas o levaram pra cá e pra lá. Será que mais alguém reparou nelas? E os pelos? Pretos, espessos, tão enrolados. Daria pra abrir uma trilha entre eles.<br />
Levantou-se sem se importar com o livro que caiu sobre um pacote de salgadinhos. Foi ao banheiro e pegou a gilete que naquela manhã nem havia usado.
<br />
Voltou para a sala e sentou-se no mesmo lugar. Começou no peito do pé e subiu em linha reta até a metade da canela. Uma faixa de pele extremamente branca surgiu em meio àquela floresta de pelos negros.<br />
Fez, então, um zigue-zague até o joelho. Linhas sinuosas, pontilhadas, círculos! Passou para a outra perna, se empolgou. Quase febril, subiu para as coxas, desenhando linhas em todas as direções. Linhas grossas, finas. Retas, curvas!<br />
Olhou extasiado para suas pernas, telas! Cravou a gilete num joelho a fim de fazer um círculo e acabou se cortando. Porra!<br />
Resmungou enquanto um filete de sangue escorria pela sua perna, avermelhando sutilmente as trilhas que ele há pouco criara.<br />
Ficou fascinado com o efeito que essa terceira cor dava às suas pernas telas. E como descia sinuoso e indolente, o líquido quente. Serpente vermelha.<br />
Com a mão um pouco trêmula e já suando um pouco, fez um corte no outro joelho, um pouco mais profundo. E outro, mais abaixo, à esquerda. E outro. E os filetes de sangue escorriam por todas as trilhas, se juntavam e se bifurcavam feito línguas incandescentes.<br />
A gilete perdeu o corte. Deixou-a cair no chão, impotente.<br />
Admirou sua obra-prima por alguns minutos. Vestiu suas calças, enfiou um par de chinelos e saiu.<br />
Precisava comprar uma gilete.<br />
O tédio finalmente o deixara.
<br />
<br />
<br />
<br />
***Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-52911030791128944552013-04-14T10:37:00.000-03:002015-01-24T23:35:41.725-02:00O Cadáver<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-indent: 14.15pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 120%;">O
cadáver da barata ornava o primeiro degrau da escadaria. Brilhava, âmbar, sob a
luz do Sol. Lindo e inerte, recolhido a um canto, fora do alcance da sola de
qualquer sapato. Parou a admirá-lo, o cadáver. E assim ficou por tempo
indefinido, a se perguntar por que não estava, aquele cadáver de barata, com as
patas e a barriga para cima, como jazem todos os cadáveres de barata. Não. Ostentava,
aquele, suas belas e brilhantes asas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-indent: 14.15pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 120%;">E
delas, as asas, irradiavam-se furta-cores raios que lhe despertavam os sentidos
e os mais diversos pensamentos. E teve, por alguns momentos, durante aquele
tempo indefinido, a sensação de que ela, a barata, se movia. Tão languidamente,
quanto os raios refratados numa autoestrada banhada por um sol de um meio-dia
incandescente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-indent: 14.15pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 120%;">Piscou
algumas vezes a fim de se livrar de tal miragem. E a barata voltou a ser
cadáver.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-indent: 14.15pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 120%;">Subiu,
então, a escadaria interminável. E ao último degrau só lhe restou, desperto e
entediado, ralhar com a empregada, o seu desleixo com a vassoura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-indent: 14.15pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-indent: 14.15pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-indent: 14.15pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-indent: 14.15pt;">
<br /></div>
Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-57027342274982182432011-10-17T22:57:00.001-02:002011-10-17T23:01:20.129-02:00Tão próximo, o Inferno...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVfo8h5mvfgECvkCDr5RJHMa6N7Q7O-vul4f-I_2a6kelIQiK5Kr0HfMH8U54pi4jE89MuyV81D07bRysqMEliOg-N4i0noAV-l_fRuamyvQwcyZH6QPEXjkwUVf8HjhgWy_uVs8H9JA/s1600/DSC00831.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVfo8h5mvfgECvkCDr5RJHMa6N7Q7O-vul4f-I_2a6kelIQiK5Kr0HfMH8U54pi4jE89MuyV81D07bRysqMEliOg-N4i0noAV-l_fRuamyvQwcyZH6QPEXjkwUVf8HjhgWy_uVs8H9JA/s400/DSC00831.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5664630830251612658" /></a><br /><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><b><u><br /></u></b></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><b><u><br /></u></b></p> <p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><b><u><br /></u></b></p> <p class="MsoNormal" style="margin-left:81.0pt">Aquela luz, não a alcançava. Nunca. Ele caminhava e caminhava em sua direção e ela se afastava e se afastava. E suas pernas pesavam e pesavam. E aquele caminho cada vez mais íngreme, acidentado. E correntes invisíveis o prendiam e o puxavam para trás e para baixo. E o chão sob os seus pés ardia e queimava. E ele continuava e continuava. E deixava pelo caminho seus destroços, seus pedaços. E ele continuava e desesperava. E continuava e continuava. A luz cada vez mais ínfima, distante, inatingível, indiferente. E ele continuava e se arrastava. E suas costas lhe doíam e arqueavam e nos ombros lhe pesavam todas as pedras deste mundo e de outros mundos. E ele prosseguia e rastejava e desfigurava a própria face e dilacerava o próprio peito e rasgava a própria carne.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="margin-left:81.0pt">E insistia e insistia e insistia…<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="margin-left:81.0pt"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-left:81.0pt"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-left:81.0pt"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-left:81.0pt">***</p>Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-91290139786693921172011-05-29T18:43:00.000-03:002011-05-29T18:45:13.042-03:00O Trem<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9TI4d5V4oIVPobujBmSxNuwPOE7YsqAhZ4P_SRMPl3pLNycC7Ek9D4eLdpa9G8YpkPwKYszurYIKlJjjIcLVPtXFi-ie72H_ffWYep_QWydxz30oalftDZJEYvofXMQL25Gf1ws6ZPMke/s400/TEMPO-trilho+de+trem+e+rel%C3%B3gio.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 333px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9TI4d5V4oIVPobujBmSxNuwPOE7YsqAhZ4P_SRMPl3pLNycC7Ek9D4eLdpa9G8YpkPwKYszurYIKlJjjIcLVPtXFi-ie72H_ffWYep_QWydxz30oalftDZJEYvofXMQL25Gf1ws6ZPMke/s400/TEMPO-trilho+de+trem+e+rel%C3%B3gio.jpg" border="0" alt="" /></a><br /> Acomodou-se no camarote. De bagagem levava apenas uma maleta de mão. Estava realmente cansada. Física e emocionalmente. Ansiava pelo chacoalhar do trem, só queria fechar os olhos e descansar. Rezava para que ninguém mais ocupasse o aposento. Não queria dividir sua dor, não podia.<br /> Lembrou-se da última viagem que fizera ao lado dele. E dela. Olhou para o banco vazio à sua frente. Podia vê-la ali sentada, sorridente. Ele , ao seu lado, embora segurasse a sua mão, dava a outra toda a sua atenção. Ciúme sempre sentiu mas tentava ser compreensiva, paciente. As pessoas mais chegadas diziam que seria bobagem tentar afastá-los e, afinal de contas, seria uma maldade fazer intrigas entre dois irmãos. O que não sabiam ou não entendiam era a influência nefasta que ela exercia sobre ele. Tolos que não enxergam!<br /> Rebeca, sua fascinante cunhada que já havia recusado mais de uma dezena de pedidos de casamento, dos mais influentes e cobiçados cavalheiros da província. Sua beleza exótica e radiante já causara até duelos e mortes. E ela parecia se divertir muito com tudo isso.<br /> Um homem parou à porta do camarote e a tirou de seus pensamentos. Cumprimentou-a , cordialmente, tirando o chapéu. Sentou-se à sua frente tentando não desabar com seu pesado corpanzil. Ela o observou e lamentou profundamente a sua presença. O homem ajustou os pequenos óculos redondos e sorriu, amável. Ela retribuiu com má vontade.<br /> O trem, finalmente, se pôs em movimento depois de um longo apito que mais parecia um lamento. Sua mente voltou novamente ao passado. Um passado recente, apenas algumas semanas atrás. Olhava pela janela, via passar as montanhas com os picos nevados que tanto a encantaram, a sua vida toda. Vida. Que vida teria agora?<br /> Chovia muito quando chegou em casa. A sombrinha não dera conta de tanta água e vento forte. O vestido encharcado e pesado lhe irritava, subiu as escadarias com dificuldade já soltando os cabelos molhados, louca para se livrar de toda aquela mortalha. No corredor já ouviu os gemidos, os gritos histéricos de Rebeca, suas gargalhadas. Não teve coragem de abrir a porta do próprio quarto.<br /> Sentiu novamente a mesma repulsa, o mesmo ódio, a mesma fúria. Flagrou-se apertando o próprio chapéu entre as mãos, apertando o maxilar, rangendo os dentes. Tratou de se acalmar, não estava sozinha e aquele homem não lhe tirava os olhos.<br /> Não lhe restava mais nada. Nem sua dignidade. Curiosamente, não havia chorado em nenhum momento. Nenhum momento. Abriu a janela e respirou o ar gelado que entrava. Tentou decifrar os cheiros que sentia. Então, lhe ocorreu. Quanto tempo levaria para que descobrissem os corpos?<br /> Foi quando o simpático cavalheiro a chamou pelo nome e mostrou-lhe seu distintivo.<br /><br /><br /><br />***Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-63618004843332648522011-04-15T02:41:00.000-03:002011-04-15T02:46:25.342-03:00Sem saída<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaEA9vf6alK0AxUYmON2Ki1CzuhRH4FYmfrHx4rRh3p6Zqx9Lq9kphPjt-CERa2RkL4udPgDT-nTullJyK105z98B4wvYxnMHkqqeZ46HiO7g9iuHyuML6k9v5TbJXZ-D6CfuekyXc77I/s1600/232832224_192f937ddb.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 500px; height: 500px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaEA9vf6alK0AxUYmON2Ki1CzuhRH4FYmfrHx4rRh3p6Zqx9Lq9kphPjt-CERa2RkL4udPgDT-nTullJyK105z98B4wvYxnMHkqqeZ46HiO7g9iuHyuML6k9v5TbJXZ-D6CfuekyXc77I/s1600/232832224_192f937ddb.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><br /><br /> “Olhava para aquela tela totalmente negra. Não vislumbrava seus limites, parecia infinita. De repente, surge um quadrado branco, um pouco para a esquerda. Tudo é linear, como num antigo desenho animado. Eu estou no quadrado. Olho para mim. Estou tateando suas arestas tentando sair. Mas, de repente, o quadrado está cheio de areia. Fico preso, totalmente imóvel. Somos, então, dois indivíduos. O “eu” que está preso no quadrado de areia e o “eu” que está do lado de fora, apenas olhando. E é o que está do lado de fora quem mais sente angústia. Não só pela aflitiva imobilidade do outro mas porque sabia que mesmo que o outro conseguisse se libertar, não teria para aonde ir.”<br /><br /><br /><br />+++Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-12659237100357780392011-03-15T18:30:00.000-03:002011-03-15T18:43:45.956-03:00Almas Etiquetadas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.castelinhobranco.com/tvqv/cartoon7leve.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 385px; DISPLAY: block; HEIGHT: 328px; CURSOR: hand" border="0" alt="" src="http://www.castelinhobranco.com/tvqv/cartoon7leve.jpg" /></a><br /><br /><br /><br />Exército de mochileiros zumbis<br />Marcham carregando mesmices<br />Mas nenhuma santa esquisitice<br />Empesteando o ar com seu tédio<br />Acorrentados uns aos outros<br />Caminham unidos num bloco compacto<br />Impenetrável, jamais indecifrável<br />Pois são óbvios, tão óbvios em suas mesmices<br />Por vezes, se mordem, vociferam injúrias<br />Atracam-se, disputam o topo do bloco<br />Mas logo relevam, se acalman<br />Nivelam<br />E voltam a marchar num coro ordinário<br />Uníssono<br /><br /><br /><br /><br />+++Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-48363923977218397852011-03-01T21:57:00.000-03:002011-03-09T02:12:51.404-03:00Espelho d'água...<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNCwtFbYVAj7LB3PKA4Hhz9QHpR0VVXuCjRerZ5SXRzRhJEL57FAEaWxy2wUenrIEunz72L5jdw1Lz6sh2J3xO7oLWvuWeU42pM7c3ko4EBlc5B-myBNK_YZ95z6Vm-c9pPXI6PuFv6Q/s1600/espelho+dagua.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 231px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNCwtFbYVAj7LB3PKA4Hhz9QHpR0VVXuCjRerZ5SXRzRhJEL57FAEaWxy2wUenrIEunz72L5jdw1Lz6sh2J3xO7oLWvuWeU42pM7c3ko4EBlc5B-myBNK_YZ95z6Vm-c9pPXI6PuFv6Q/s400/espelho+dagua.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5579295012149354754" /></a><br /><br /><br /><br /><br />Diáfana<br />Difusa<br />Dispersa<br /><br /><br /><br />Imagem<br />Inversa<br /><br /><br />Diluída<br />Dissolvida<br /><br /><br />Etérea<br />Eterna<br />...em sua brevidade<br /><br /><br /><br /><br />+++Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-19650064267455905082011-02-04T16:12:00.000-02:002013-04-15T01:01:27.204-03:00Feixe de Luz<br />
<br />
<br />
Teu hálito quente<br />
Na minha nuca<br />
Denuncia tua presença<br />
Etérea<br />
Na noite escura<br />
<br />
…meu doce espectro<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
So close to me…<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
***Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-1184144199418422562011-01-22T20:47:00.000-02:002011-01-22T20:53:51.390-02:00Jardim Maculado<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDbiffBEFdhsdKqlCj-rj8hV6Sxr5fRN2YSWXJ4iCRq0k7xXOKQ7IpyGh5mauLbYBkw7D0cdQQNWD3FZSzVFpq9gPLByFSW7z9ccgUgAhK0G2OhCpE4FQPtp1tlGE6YryoaAGffO6MIQ/s1600/jardim.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 513px; DISPLAY: block; HEIGHT: 238px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5565146951775334050" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDbiffBEFdhsdKqlCj-rj8hV6Sxr5fRN2YSWXJ4iCRq0k7xXOKQ7IpyGh5mauLbYBkw7D0cdQQNWD3FZSzVFpq9gPLByFSW7z9ccgUgAhK0G2OhCpE4FQPtp1tlGE6YryoaAGffO6MIQ/s400/jardim.jpg" /></a><br /><br />Lá no meu jardim<br />Entre uma flor e outra<br />Erva daninha fez morada<br />Como rosa disfarçada<br />Sonsa,dissimulada<br />Espalhando seu veneno<br />Peçonhenta, desalmada<br />Foi ceifando tudo<br />Vertiginosa, determinada<br />Obscura, endiabrada<br />Definhou-se a rosa<br />Definhou-se o cravo<br />Ressequiu-se o verde<br />Palha seca, desencantada<br />E o perfume inebriante<br />Perdeu-se todo, sobrou nada<br />Em seu lugar avolumou-se<br />O aroma fétido do enxofre<br />Lá no meu jardim<br />Entre uma flor e outra<br />Erva daninha fez morada<br />Reina, agora, soberana<br />Proliferando suas garras<br />Seiva maldita, ceifando tudo<br />Do meu jardim, restou nada<br /><br /><br /><br /><br />+++Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-219694258201574432011-01-19T12:21:00.000-02:002011-03-09T03:46:36.575-03:00Injustiça<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM-NvE_3gYakafbL3YUGjx-sleBmKyz9jyZjyOJdLrr8KuT4CdDpQ7bAtsPoTUXwoQqFD-EwGmj4TklcjwQKjwCm3_t9u_TIrhKEv_YyaXBW7ZX0vg1GnQgAZZ7NO0rkhCT7h43x0r2g/s1600/injusti%25C3%25A7a.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 322px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5563980131265687506" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM-NvE_3gYakafbL3YUGjx-sleBmKyz9jyZjyOJdLrr8KuT4CdDpQ7bAtsPoTUXwoQqFD-EwGmj4TklcjwQKjwCm3_t9u_TIrhKEv_YyaXBW7ZX0vg1GnQgAZZ7NO0rkhCT7h43x0r2g/s400/injusti%25C3%25A7a.jpg" /></a><br /><div><br /><iframe width="425" height="25" src="http://www.youtube.com/embed/XJWVuiAvugs?fs=1" frameborder="0" allowFullScreen=""></iframe><br /><br />Maldita dor que consome<br />Rasga feito devasso punhal<br />Uma existência tão débil<br />Espetacularmente banal<br />E ainda assim<br />Há tempo para sofrer<br />Ora, apenas os grandes deveriam sofrer!<br />Somente a eles, os grandes momentos de dor!<br />Pois não são os protagonistas do majestoso espetáculo?<br />Por que deveriam sofrer os reles mortais que habitam as coxias?<br />Se as glórias nunca ultrapassam os limites do palco<br />Não deveríamos sofrer<br />Nós, os coadjuvantes!<br /><br /><br /><br />Inspirado no filme "Diamante de Sangue"<br /><br /><br />Cerca de 50 mil pessoas morreram durante a Guerra Civil de Serra Leoa,na década de 1990. Conflito financiado pelo contrabando de diamantes.<br /><br /><br /><br /><br />***<br /><br /></div>Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-51940253978450012302011-01-08T21:35:00.000-02:002011-01-08T22:02:26.857-02:00Sinistro Amor<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCDQlxQggxBjVpJNanFhXDgtdz-zhutWj6NiZHesSn-_7pXsrFe-V2Dju663mmr2YnjseJ5CV_HVKxu8NkOxxqnJEBS1cBaHDTZ5j45bEmv55UnZt1cZaP2TqYxt7UDcAU5kqgj2kV7w/s1600/sinistro+amor.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 357px; height: 280px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCDQlxQggxBjVpJNanFhXDgtdz-zhutWj6NiZHesSn-_7pXsrFe-V2Dju663mmr2YnjseJ5CV_HVKxu8NkOxxqnJEBS1cBaHDTZ5j45bEmv55UnZt1cZaP2TqYxt7UDcAU5kqgj2kV7w/s400/sinistro+amor.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5559969443994809810" /></a><br /> Uma brisa leve soprava fazendo revoar as folhas de outono,o fim de tarde avermelhado banhado por um resto de Sol indolente dava à cena um colorido espetacular que não condizia com o momento. Ao redor do túmulo duas dezenas de pessoas pesarosas ouviam as últimas palavras do padre antes que o caixão do jovem descesse à sepultura. Alguns mal conseguiam olhar para aquela mãe,outros,<br />morbidamente,não lhe tiravam os olhos.<br /> E lá estava ela,não conseguia chorar porque ainda não acreditava.<br />Olhava para a caixa de madeira à sua frente e não lhe cabia que ele estivesse ali. Aliás, o que sobrara dele. Reconhecer seu filho, seu lindo filho,naquele arremedo de gente retorcido,enegrecido pelas chamas.<br />Não. Seu filho era aquele que chegava todas as tardes,mochila nas costas,azul nos olhos, tênis e chiclete.<br /> O garotinho não olhava,segurava na mão da mãe e contava as folhas no chão. Talvez não concebesse o vazio. E tão pouco tempo depois! Ainda podia sentir o mesmo cheiro de flores e velas, ouvir as mesmas palavras,os mesmos olhares consternados. Pobres órfãos de pai! Lembrou-se do irmão segurando sua mão como fazia agora sua mãe,olhou de relance para o caixão,tão parecido. Ousou olhar para sua mãe.Por que não chorava? Se antes explodiu em lágrimas e lamúrias!<br /> Todos ,pouco a pouco,se despedem da cena voltando às suas rotinas;deixando abraços,beijos,apertos de mãos,afagos na pequena cabeça.Sozinhos,enfim,o menino puxa sua mãe. Quer tirá-la dali,levá-la para casa.<br /> A casa. Ficara intacta. A mulher desabou numa poltrona,exausta. De onde estava podia ver,através da grande janela,os escombros do que fora a garagem. Um galpão construído por seu marido,reduto dos homens da casa. Seus homens. Não desviou o olhar, era ali que seu filho guardava sua vida de adolescente,seus sonhos,segredos,seus erros. E o maldito carro.<br /> O menino,intrigado,tentava entender aquele silêncio. Achou que sua mãe estava mais velha,parecia tão cansada.<br /> O que poderia fazer? Queria de alguma maneira confortá-la,traze-la de volta. Foi até à cozinha e achou que um chá lhe faria bem,pelo menos era assim que ela também o confortava quando ele ficava doente. Subiu na cadeira para pegar o pote de ervas,encheu a chaleira de água para ferver. Acendeu o fogo.<br /> Colocou a chaleira sobre a chama e esperou. Suas pupilas refletiam o clarão do fogo que observava. O mesmo fogo que observara há dois dias,da janela do seu quarto.<br /> Foi tão rápido,o irmão nem conseguiu gritar. Depois da explosão as chamas altíssimas iluminaram o céu.Também lembrava do cheiro. Viu,da sua janela, a mãe correndo em direção à garagem, alguns vizinhos tentando segurar a mulher desesperada.<br /> Foi tão fácil! Todo fim de tarde ele ficava lá,com sua música,fuçando no seu valioso carro.<br /> Teve alguma dificuldade para abrir o gás,eram dois botijões armazenados nos fundos da garagem,sobre um tablado. Também teve o cuidado de deixar as duas janelas fechadas. Ficou no seu quarto,montando seu quebra-cabeça. Na hora certa abriu as cortinas e assistiu.<br /> O irmão entrou pela pequena porta lateral,como sempre fazia. A mão foi mais rápida do que a percepção do cheiro. Bastou o toque fatídico no interruptor. Foi fácil.<br /> Livrar-se do outro foi mais difícil. E menos divertido.<br /> Despejou a água fervente na xícara. Cuidaria de sua querida mãe para sempre.<br /> Ela ainda estava lá,sentindo o peso do mundo sobre os ombros. Ergueu os olhos para o seu único filho que lhe oferecia uma xícara de chá fumegante e acolhedor. E viu através do vapor que exalava do líquido um olhar tão cheio de amor que a fez,finalmente,chorar.<br /><br /><br /><br /><br />+++Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-76009261609587100122011-01-04T18:07:00.000-02:002011-01-04T19:50:35.390-02:00O Corvo<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieQoYki474iJJ6a7QmTfE-_CXGh-1Te-s-Kg-FjTajcz-Z05V9EPhnXO2UGeM6Tc8CUcuaPnk_yCR_reF1tH7VTHkonbzCFaV6QkD2Hd57XDTza4ygE0_OQVhe6-hyJV2DNnIBk-dUzQ/s1600/corvo.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 261px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieQoYki474iJJ6a7QmTfE-_CXGh-1Te-s-Kg-FjTajcz-Z05V9EPhnXO2UGeM6Tc8CUcuaPnk_yCR_reF1tH7VTHkonbzCFaV6QkD2Hd57XDTza4ygE0_OQVhe6-hyJV2DNnIBk-dUzQ/s400/corvo.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5558447704516193890" /></a><br />Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,<br />Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,<br />E já quase adormecia, ouvi o que parecia<br />O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.<br />“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.<br />É só isto, e nada mais.” <br /><br />Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,<br />E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.<br />Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada<br />P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -<br />Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,<br />Mas sem nome aqui jamais! <br /><br />Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo<br />Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!<br />Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,<br />“É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;<br />Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.<br />É só isto, e nada mais”. <br /><br />E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,<br />“Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me desculpais;<br />Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,<br />Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,<br />Que mal ouvi…” E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.<br />Noite, noite e nada mais. <br /><br />A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,<br />Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.<br />Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,<br />E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -<br />Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.<br />Isso só e nada mais. <br /><br />Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,<br />Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.<br />“Por certo”, disse eu, “aquela bulha é na minha janela.<br />Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.”<br />Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.<br />“É o vento, e nada mais.” <br /><br />Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,<br />Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.<br />Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,<br />Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,<br />Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,<br />Foi, pousou, e nada mais. <br /><br />E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura<br />Com o solene decoro de seus ares rituais.<br />“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado,<br />Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!<br />Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.”<br />Disse o corvo, “Nunca mais”. <br /><br />Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,<br />Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.<br />Mas deve ser concedido que ninguém terá havido<br />Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,<br />Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,<br />Com o nome “Nunca mais”. <br /><br />Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,<br />Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.<br />Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento<br />Perdido, murmurei lento, “Amigo, sonhos – mortais<br />Todos – todos já se foram. Amanhã também te vais”.<br />Disse o corvo, “Nunca mais”. <br /><br />A alma súbito movida por frase tão bem cabida,<br />“Por certo”, disse eu, “são estas vozes usuais,<br />Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono<br />Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,<br />E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais<br />Era este “Nunca mais”. <br /><br />Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,<br />Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;<br />E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira<br />Que qu’ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,<br />Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,<br />Com aquele “Nunca mais”. <br /><br />Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo<br />À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,<br />Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando<br />No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,<br />Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,<br />Reclinar-se-á nunca mais! <br /><br />Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso<br />Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.<br />“Maldito!”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te<br />O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,<br />O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”<br />Disse o corvo, “Nunca mais”. <br /><br />“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!<br />Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,<br />A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,<br />A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais<br />Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!<br />Disse o corvo, “Nunca mais”. <br /><br />“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!<br />Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.<br />Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida<br />Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,<br />Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”<br />Disse o corvo, “Nunca mais”. <br /><br />“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!”, eu disse. “Parte!<br />Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!<br />Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!<br />Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!<br />Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”<br />Disse o corvo, “Nunca mais”. <br /><br />E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda<br />No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.<br />Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,<br />E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,<br />Libertar-se-á… nunca mais! <br /><br /><br /><br />Edgar Allan Poe, por Fernando Pessoa<br /><br /><br /><br />+ + +Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-89075284970223213802010-10-29T00:17:00.000-02:002010-10-29T00:36:01.755-02:00Jekill and Hide...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9V30any1BgdqcXqHBgwhH7s3cGpkTDAVLrcjLN4_yEBzI6teyozr970Ke04MFZBJE0k0btXcjmT91xn6C5mfTZyPba9YYsInSg0AubU1ey0hLq7aQTA8Y1DQ6unLoHLhtG3Ujw93kAw/s1600/olhos+maus+2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 242px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9V30any1BgdqcXqHBgwhH7s3cGpkTDAVLrcjLN4_yEBzI6teyozr970Ke04MFZBJE0k0btXcjmT91xn6C5mfTZyPba9YYsInSg0AubU1ey0hLq7aQTA8Y1DQ6unLoHLhtG3Ujw93kAw/s400/olhos+maus+2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5533291080029435426" /></a><br /> <br /><br />“Não lhe cresceram garras,pelos ou enormes caninos. Monstruosa,tornou-se a expressão do seu olhar,pois nela estava contido todo o ódio do mundo.”Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-70253372366929889572010-06-30T02:10:00.000-03:002023-08-26T00:36:42.389-03:00Mutação sob o luar<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZiDpOEIFrMm35I8NeGUDS18qDRsR7mQZVqV4-bvDtXQZ4I8GgpkxAmXAuU1z4Tkvl6WsPzVrHGNFAIXSZztcbFHI2wBqYhnLMveTMdqOHgYc-kpepp-Kjx2PtTLNEiU5DzTB6KGCv4Q/s1600/prata.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5488430559967615634" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZiDpOEIFrMm35I8NeGUDS18qDRsR7mQZVqV4-bvDtXQZ4I8GgpkxAmXAuU1z4Tkvl6WsPzVrHGNFAIXSZztcbFHI2wBqYhnLMveTMdqOHgYc-kpepp-Kjx2PtTLNEiU5DzTB6KGCv4Q/s400/prata.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 394px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 295px;" /></a><br /><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="25" src="http://www.youtube.com/embed/6LAwk9ewOaA?fs=1" width="425"></iframe><br /><br />Manto negro<br /><br />Não há Lua ou estrelas<br /><br />Piso na areia molhada, fria<br /><br />Arrepios percorrem o meu corpo<br /><br />O vento cortante ensurdece<br /><br />O mar bravio me chama<br /><br />As nuvens, então, abrem espaço<br /><br />E a Lua brilha, plena<br /><br />Lua, cintila sobre mim e meu mar!<br /><br />Navego em ondas<br /><br />Tal qual serpente<br /><br />Serpentina<br /><br />Sou veloz, raio de luz submerso<br /><br />Cometa marinho<br /><br />Súbito busco o luar<br /><br />Mas não necessito de ar<br /><br />Volto só para exibir meu rabo de peixe<br /><br />Prata, reluzente<br /><br />Solto meu canto, cheio de encanto<br /><br />E levo comigo, o moço bonito...<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />"Tsubara Wo Daite" - Mermaid Melody, Mikeru<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></div>Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-31347832513955172692010-04-19T19:39:00.000-03:002017-04-07T22:13:01.008-03:00O Monstro do Armário<br />
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Bela escovava as loiras madeixas, sentada em sua cama, em seu quarto de princesa. Alva tez, porcelana. Tão linda, tão frágil, em sua camisola rendada e branca, confundia-se às suas próprias bonecas.<br />
Deitou-se na enorme cama, ornada por belo dossel. À tênue luz da arandela pôs-se a fazer bichinhos, com as sombras de suas mãozinhas. Ria e se divertia, inocente.<br />
O ranger duma porta chamou-lhe a atenção. De um pulo sentou-se na cama. Coração disparado, instintivamente encolheu as pernas. Sentidos aguçados, olhos arregalados. Novo ranger de portas. Armário aberto, escancarado! Bela mal respirava, paralisada.<br />
Na parede em que há pouco reproduzia coelhinhos, viu passar, ligeira e fortuita, outro tipo de sombra. Ouvia barulhos, barulhinhos que mais pareciam passinhos. E que percorriam, numa rapidez alucinante, as paredes e o teto!<br />
Agarrou os joelhos enquanto os barulhinhos, subitamente, pararam. Uma tempestade se anunciava, trovões retumbavam ameaçadores. Um vento gelado entrava pelas frestas das janelas e atingiam-lhe as costas mas à sua frente, de algo, emanava calor.<br />
Apurou a visão e conseguiu distinguir na outra extremidade da cama, uma forma grotesca. Como que congelada, Bela cravou-lhe os olhos.<br />
Percebeu que a sombra, ainda sem rosto, se aproximava e, de repente, num clarão de um raio seguido de um estrondoso trovão, vislumbrou a terrível e monstruosa carranca!<br />
Bela, então, soltou um urro horrendo e abrindo uma assustadora bocarra saltou sobre a criatura e com suas súbitas garras a dilacerou e com suas enormes presas a devorou!<br />
Jogou a carcaça pela janela e um novo clarão iluminou seus olhos vermelhos, desgrenhados cabelos, a linda camisola manchada, rasgada pela pobre criatura que em seu derradeiro dia foi caça!
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Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-76359515913738762612010-04-15T00:42:00.000-03:002010-04-15T00:48:45.073-03:00Shinju e o Samurai<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjotyJUM9hyJDv7IVlul74nNFVntoZmLWehHdV8K_BB9P5OUJDdRhH261fjwjy38k3DngB5DMcf9_IJ9GZKVrCyU1TvXLifRAFE6OrOJZyInt2YGajv-26dESlsau-NU0M_qv03lbrcZQ/s1600/shinju+4.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; DISPLAY: block; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5460206095133839650" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjotyJUM9hyJDv7IVlul74nNFVntoZmLWehHdV8K_BB9P5OUJDdRhH261fjwjy38k3DngB5DMcf9_IJ9GZKVrCyU1TvXLifRAFE6OrOJZyInt2YGajv-26dESlsau-NU0M_qv03lbrcZQ/s320/shinju+4.jpg" /></a><br />Rara e formosa pérola<br /><br />Fruto de amor proibido<br /><br />Negros cabelos,olhos de jade<br /><br />Tão alva,à Lua fazia inveja<br /><br />Mistura de raças,apuro do impuro<br /><br />Ser indomável,sereia tão bela<br /><br />Do pai,herdou a coragem<br /><br />A astúcia,das entranhas da mãe<br /><br />A muitos seduz,a poucos se dá<br /><br />Cruzou sete mares<br /><br />Seu destino traçou<br /><br />Imortal se tornou<br /><br /><br /><br /><br /><br />Lendária Shinju<br /><br />Eis-me,teu servo<br /><br />Aos teus encantos me curvo<br /><br />Aos teus caprichos me rendo<br /><br />Para todo o sempre<br /><br />Seguirei o teu canto<br /><br />Soldado fiel,eu serei<br /><br />Tuas lutas,eu vencerei<br /><br />Teus inimigos,derrotarei<br /><br />E,se preciso for<br /><br />Por ti,morrerei.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><div align="center"></div></div>Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-45099614795734920742010-03-26T00:51:00.000-03:002010-03-26T00:55:05.315-03:00Gotas<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVZGwEvjuDy8HJvbLtHo0AjdowTKRyPcezNfsXEiosmaxZ0nemk1NWrEzRGQKidhEaEm0iCnjqyD3ZjNYJqdtS97i8B-HY9WN0K8qtZWnFOO8QsFHIHbZLOTDTGk_ocA9DflWdm-quUg/s1600/gotas.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 282px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452786070677930514" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVZGwEvjuDy8HJvbLtHo0AjdowTKRyPcezNfsXEiosmaxZ0nemk1NWrEzRGQKidhEaEm0iCnjqyD3ZjNYJqdtS97i8B-HY9WN0K8qtZWnFOO8QsFHIHbZLOTDTGk_ocA9DflWdm-quUg/s320/gotas.jpg" /></a><br /><div>Bocejou enquanto lia o último relatório.Enfadonho,maldito! Exausto,já nem entendia mais nada do que estava lendo. Daria o ok e dane-se! Esticou braços e pernas e jogou a cabeça pra trás. Um pingo de água gelada caiu-lhe na testa. Acordou de vez! Raios! Sua mesa ficava bem embaixo de uma luminária. Goteira? Ali? Olhou atentamente para cima,nenhuma pista. Esperou prá ver se pingaria de novo. Nada. Hum...vai saber... </div><br /><div>Desligou o computador,pegou suas coisas.Finalmente iria prá casa. A essa hora,provavelmente,só ele e o vigia estariam no prédio. Chamou o elevador e,enquanto esperava,olhou para trás,ainda sem entender de onde viera aquele pingo de água. </div><br /><div>Entrou no elevador pensando na trabalheira que teria no fim de semana. Detestava ir para o sítio, não via graça nenhuma naquele fim de mundo. E ainda por cima tinha que levar a chata da cunhada a tira colo. Saiu de seus devaneios quando o elevador parou, bufou irritado e quando já ia saindo,caiu-lhe outro pingo de água gelada sobre a cabeça. Mas, que diabo?? Saiu apressado com os pelos do corpo eriçados. Sabia que aquilo não fazia o menor sentido mas preferiu ignorar o inexplicável. Estranha sensação,esta. </div><br /><div>Um tanto perturbado, entrou em seu carro louco pra ir embora. Voltou a pensar no sítio, na cunhada, qualquer coisa servia. Passou pela portaria e cumprimentou o vigia. Sentiu um certo alívio ao sair do prédio. O bom das madrugadas era o sossego nas ruas, nada de trânsito engarrafado, buzinas estridentes. Começou a relaxar e até sentiu um certo prazer em dirigir,praticamente sozinho, na larga avenida. </div><br /><div>Aquela estranha sensação havia passado. Certamente,haveria uma explicação plausível para as misteriosas gotinhas. Que bobagem,ficar assustado. Começou a rir,lembrando-se da clássica cena dos desenhos animados. Do sujeito azarado que anda com uma nuvenzinha de chuva bem em cima da cabeça. Olhou para o espelho e perguntou,divertido,será que to azarado?? Foi quando sentiu uma gélida gota de água pingar sobre sua cabeça. </div><br /><div>Soltou um grito de pavor e perdeu o controle do carro. Tentou frear mas sobre o asfalto,subitamente molhado, o carro não obedecia. Derrapou por vários metros e foi chocar-se às pilastras de um viaduto. </div><br /><div>No dia seguinte, seus colegas, chocados com a perda do companheiro, tentavam entender a tragédia. Uma funcionária se encarregou de limpar sua mesa, encaixotar seus objetos pessoais para entregar à família. Pobre rapaz, sempre tão simpático! </div><br /><div>A moça,consternada, terminou a triste tarefa com um suspiro,desalentada. Passou a mão pela cadeira. É, é a vida... </div><br /><div>Foi quando sentiu um pingo de água gelada cair sobre sua cabeça... </div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div>Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2546621491527085880.post-87772391216296878402010-01-03T03:22:00.000-02:002023-08-26T00:38:32.993-03:00Herdeiros de Lilith<span style="color: #993399;"></span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAAs25P7r5TuKRCDiYAg3S54nue0AB8-By2qat3VG1mfETkOn2IyG67mUmkjkEAI_aZ8cAIcL7xB8XBHCaTLbdRusOog6lz0DL43pB6XW1HDhCm7ae2Epw08g66-TdXHWwtszxnWJxTg/s1600-h/lilith.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5422381241981007122" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAAs25P7r5TuKRCDiYAg3S54nue0AB8-By2qat3VG1mfETkOn2IyG67mUmkjkEAI_aZ8cAIcL7xB8XBHCaTLbdRusOog6lz0DL43pB6XW1HDhCm7ae2Epw08g66-TdXHWwtszxnWJxTg/s320/lilith.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 204px;" /></a> <em><span style="color: #993399;">Escondem-se nos becos</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Confundem-se nas sombras</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Senhores das trevas</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Eternos, sinistros, funestos</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Casta maléfica</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Nobre estirpe</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Machos sedutores</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Devoradores de virgens</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Ninfas nefastas</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Putas perversas</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Seguem seu mestre</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Sugam os incautos</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Belas e malditas criaturas</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Permeiam de horror e luxúria</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">As noites escuras, sem Lua</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Bailam e copulam</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Em dantescas orgias</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Escarnecem dos vivos</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Escarnecem dos mortos</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Oferecem a eternidade</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Aos que por seu crivo passam</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Algozes da humanidade</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Exercem seu fascínio</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Com requintes de crueldade</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">São os herdeiros de Lilith</span></em><br /><em><span style="color: #993399;">Irmãos renegados</span></em>Kássia Reishttp://www.blogger.com/profile/02306712522741720439noreply@blogger.com0