Bocejou enquanto lia o último relatório.Enfadonho,maldito! Exausto,já nem entendia mais nada do que estava lendo. Daria o ok e dane-se! Esticou braços e pernas e jogou a cabeça pra trás. Um pingo de água gelada caiu-lhe na testa. Acordou de vez! Raios! Sua mesa ficava bem embaixo de uma luminária. Goteira? Ali? Olhou atentamente para cima,nenhuma pista. Esperou prá ver se pingaria de novo. Nada. Hum...vai saber...
Desligou o computador,pegou suas coisas.Finalmente iria prá casa. A essa hora,provavelmente,só ele e o vigia estariam no prédio. Chamou o elevador e,enquanto esperava,olhou para trás,ainda sem entender de onde viera aquele pingo de água.
Entrou no elevador pensando na trabalheira que teria no fim de semana. Detestava ir para o sítio, não via graça nenhuma naquele fim de mundo. E ainda por cima tinha que levar a chata da cunhada a tira colo. Saiu de seus devaneios quando o elevador parou, bufou irritado e quando já ia saindo,caiu-lhe outro pingo de água gelada sobre a cabeça. Mas, que diabo?? Saiu apressado com os pelos do corpo eriçados. Sabia que aquilo não fazia o menor sentido mas preferiu ignorar o inexplicável. Estranha sensação,esta.
Um tanto perturbado, entrou em seu carro louco pra ir embora. Voltou a pensar no sítio, na cunhada, qualquer coisa servia. Passou pela portaria e cumprimentou o vigia. Sentiu um certo alívio ao sair do prédio. O bom das madrugadas era o sossego nas ruas, nada de trânsito engarrafado, buzinas estridentes. Começou a relaxar e até sentiu um certo prazer em dirigir,praticamente sozinho, na larga avenida.
Aquela estranha sensação havia passado. Certamente,haveria uma explicação plausível para as misteriosas gotinhas. Que bobagem,ficar assustado. Começou a rir,lembrando-se da clássica cena dos desenhos animados. Do sujeito azarado que anda com uma nuvenzinha de chuva bem em cima da cabeça. Olhou para o espelho e perguntou,divertido,será que to azarado?? Foi quando sentiu uma gélida gota de água pingar sobre sua cabeça.
Soltou um grito de pavor e perdeu o controle do carro. Tentou frear mas sobre o asfalto,subitamente molhado, o carro não obedecia. Derrapou por vários metros e foi chocar-se às pilastras de um viaduto.
No dia seguinte, seus colegas, chocados com a perda do companheiro, tentavam entender a tragédia. Uma funcionária se encarregou de limpar sua mesa, encaixotar seus objetos pessoais para entregar à família. Pobre rapaz, sempre tão simpático!
A moça,consternada, terminou a triste tarefa com um suspiro,desalentada. Passou a mão pela cadeira. É, é a vida...
Foi quando sentiu um pingo de água gelada cair sobre sua cabeça...
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