Bela escovava as loiras madeixas, sentada em sua cama, em seu quarto de princesa. Alva tez, porcelana. Tão linda, tão frágil, em sua camisola rendada e branca, confundia-se às suas próprias bonecas.
Deitou-se na enorme cama, ornada por belo dossel. À tênue luz da arandela pôs-se a fazer bichinhos, com as sombras de suas mãozinhas. Ria e se divertia, inocente.
O ranger duma porta chamou-lhe a atenção. De um pulo sentou-se na cama. Coração disparado, instintivamente encolheu as pernas. Sentidos aguçados, olhos arregalados. Novo ranger de portas. Armário aberto, escancarado! Bela mal respirava, paralisada.
Na parede em que há pouco reproduzia coelhinhos, viu passar, ligeira e fortuita, outro tipo de sombra. Ouvia barulhos, barulhinhos que mais pareciam passinhos. E que percorriam, numa rapidez alucinante, as paredes e o teto!
Agarrou os joelhos enquanto os barulhinhos, subitamente, pararam. Uma tempestade se anunciava, trovões retumbavam ameaçadores. Um vento gelado entrava pelas frestas das janelas e atingiam-lhe as costas mas à sua frente, de algo, emanava calor.
Apurou a visão e conseguiu distinguir na outra extremidade da cama, uma forma grotesca. Como que congelada, Bela cravou-lhe os olhos.
Percebeu que a sombra, ainda sem rosto, se aproximava e, de repente, num clarão de um raio seguido de um estrondoso trovão, vislumbrou a terrível e monstruosa carranca!
Bela, então, soltou um urro horrendo e abrindo uma assustadora bocarra saltou sobre a criatura e com suas súbitas garras a dilacerou e com suas enormes presas a devorou!
Jogou a carcaça pela janela e um novo clarão iluminou seus olhos vermelhos, desgrenhados cabelos, a linda camisola manchada, rasgada pela pobre criatura que em seu derradeiro dia foi caça!
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